Nimona

Nimona

Lançado Diretamente no Netflix no Brasil e nos EUA. Nimona é uma animação que conquista pela história e pela sua energia, mas principalmente por conversar tão bem sobre seus temas.
Trazendo uma história que envolve um cavaleiro procurado pelo Reino e uma garota capaz de se transformar, Nimona adota uma história que, como bom exemplar de fábula, envolve nas lições e temas que aborda, mas também ao trazer um frequente dinamismo à narrativa que sempre a torna movimentada e empolgante (mesmo quando passa por momentos ligeiramente clichês), e com isso, o roteiro traz diversos conflitos dramáticos que enriquecem a história de maneira a realmente nos envolver com os dramas dos personagens (a relação entre Ballister e Ambrosius acaba ganhando contornos ainda mais intensos e dramáticos). Além disso, o filme garante surpresas através de reviravoltas eficazes no roteiro ou por algumas piadas que funcionam (desde aquelas que envolvem o humor malvadinho de Nimona ou as mais simples, porém eficazes, como aquela que Ambrosius faz um desabafo para alguém, apenas para se revelar uma conversa imaginária, e não tive como não dar um sorrisinho quando o filme faz uma referência maravilhosa a Kick-Ass – Quebrando Tudo através da escolha de uma música que surgia no momento que revelava a Hit-Girl naquele filme, afinal, é a eterna Hit-Girl da atriz Chloë Grace Moretz quem dubla Nimona), e a partir da metade, o filme ganha imensa força ao convergir todas as tramas de maneira perfeita e emocionalmente impactante. E embora o humor excessivamente juvenil da personagem Nimona irrite um pouco por parecer inicialmente deslocado da narrativa mais pesada (que já lida com tramas conspiratórias, traições e preconceitos), aos poucos Nimona nos ganha devido ao seu carisma e à sua energia anárquica e divertida. Além disso, o filme surpreende ao trazer um casal homoafetivo na história e que são retratados de forma natural, sem jamais ressaltar aquilo como algo absurdo dentro do universo do filme.
Mas é na discussão de seus temas que torna Nimona ainda mais interessante, enriquecendo-o no processo: Nem um pouco sutil ao trazer metáforas que relatam como minorias sempre são vistas com maus olhos (especialmente a LGBTQIAPN+), o roteiro é inteligente ao utilizar do mesmo ponto do roteiro de Star Wars: Os Últimos Jedi (se lá qualquer um poderia ser um Jedi, aqui qualquer um pode ser um cavaleiro), apenas para ser desfeito após um golpe cruel. E a partir disso o filme comenta como o medo do progresso e da evolução da sociedade sempre acaba nos atrasando como humanidade, e o pior de tudo é que, mesmo quando a maioria parece abraçar a minoria, sempre haverá alguém disposto a manter o status quo. E com isso, o filme também é realista ao mostrar como o ódio nos afasta e como ele é uma força tão destrutiva que corrompe a todos (até mesmo a mais inocente das pessoas, algo que também é comprovado no clímax quando alguém se transforma em uma nuvem escura destrutiva), sendo certeiro também ao retratar que o progresso e a evolução da sociedade sempre chega, e que paradigmas precisam ser quebrados para o novo nascer. Mais ainda, o filme fascina ao abraçar a ideia de questionar o status quo, as instituições e a nossa própria essência, e a forma como Nimona descreve a sua transformação em diversos animais e até pessoas como libertadora, é tocante ao criar um belo paralelo que qualquer pessoa LGBTQIAPN+ já passou alguma vez na vida.
Audacioso como seus personagens, Nimona ainda comprova sua força fora da tela, já que a animação começou a ser realizada ainda no saudoso Blue Sky Studios (da franquia A Era Do Gelo) e que após a compra da Fox Films pela Disney, o estúdio do rato (que adora se pagar de progressista) fez sua tática predatória e fechou o estúdio de animação da Fox e cancelou os projetos (incluindo Nimona, que já estava em 70% dos trabalhos de Layout). Quis o destino Nimona ser revivido pela Netflix, ser lançado ano passado, receber elogios e ainda ser indicado a várias premiações (onde além do Oscar 2024, foi a animação que mais recebeu indicações ao Annie Awards, especializado na área), enquanto as animações e alguns filmes da Disney amargaram fracassos.
Contando ainda com uma animação muito bem realizada (que adota uma série de estilos visuais marcantes, por vezes soando rudimentar, mas que acaba conferindo um charme extra ao filme, e gosto dos detalhes sutis que os animadores conferem aos personagens que os tornam mais humanos, como a breve troca de olhares entre Ballister e Ambrosius em um momento do filme), uma ótima dublagem (Chloë Grace Moretz confere imensa energia a Nimona e Riz Ahmed faz um belo trabalho ao evocar suas várias transformações pessoais ao longo do filme), uma bela fotografia, um design de produção excepcional (que encanta com o Reino criado, retratado quase como uma sociedade utópica futurista), uma boa trilha sonora, enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível no Netflix

Baseado na Graphic Novel de ND Stevenson.
Indicado ao Oscar 2024 de Melhor Filme de Animação.

Gênero: Animação/Aventura
Duração: 99 Minutos
Classificação Indicativa: 12 Anos (Violência)
Distribuição: Netflix
Direção: Nick Bruno e Troy Quane
Elenco de Vozes (Versão Original): Chloë Grace Moretz, Riz Ahmed, Eugene Lee Yang e Frances Conroy

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