Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

OsTresMosqueteirosD'Artagnan

Os Três Mosqueteiros é uma obra que encantou gerações ao longo dos séculos, e podemos comprovar isso pelas diversas adaptações ao longo dos anos (a última, lançada em 2011, é divertidíssima e visualmente espetacular). Dessa vez realizado na França (país de origem do livro e do seu autor) em uma superprodução dividida em 2 partes, este Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan se revela uma aventura empolgante, grandiosa e muito bem realizada.
Trazendo o jovem D’Artagnan tentando se tornar um mosqueteiro ao mesmo tempo em que se vê no meio de uma possível guerra envolvendo o futuro da França, Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan segue bastante à risca as bases da clássica história de Alexandre Dumas (ao menos, nesta primeira metade) e suas novidades acabam sendo poucas (os mais notáveis são os acontecimentos no terceiro ato e a menção da bissexualidade de um personagem, que é tratada com surpreendente naturalidade pelos demais personagens). Felizmente, a história é tão boa que mesmo sabendo de boa parte do que vai acontecer ela é sempre envolvente, mesmo quando ocorrem pequenos desvios para fugir da previsibilidade da história ou ao diminuir o tempo de tela de alguns personagens julgando que já os conhecemos (e neste filme, achei que a participação do Cardeal de Richelieu foi muito discreta, não soando tão ameaçador quanto em outras versões, parecendo ser dependente mais da memória do espectador em relação ao personagem do livro e de outras adaptações) ou mesmo em algumas conveniências na história (como aquela que abre o filme e que será importante mais tarde). Além disso, ao ancorar sua narrativa em uma guerra iminente (pouco explorada nas suas últimas versões), e mesmo que não seja explicada mais a fundo, o filme ganha uma atmosfera de tensão que ajuda a tornar a trama mais urgente.
Fugindo da abordagem estilizada e divertida das versões americanas, o diretor Martin Bourboulon adota uma atmosfera sóbria e realista, mas também grandiosa e épica, e busca conferir algum estilo para uma história já contada várias vezes, se destacando nas sequências de ação (quase todas rodadas em longos planos) e também por investir em planos grandiosos que retratam os personagens em grandes paisagens, mesmo inseridos em uma ambientação sóbria. Claro, o diretor comete alguns erros, e a relação de D’Artagnan e Constance é desenvolvida com uma breguice e tosquice muito próxima do que vimos entre Anakin e Padmé em Star Wars: Episódio 2 – Ataque Dos Clones (e que contrasta totalmente com a seriedade da narrativa), e até mesmo as sequências de ação em longos planos, por mais bem realizadas que sejam (e que se inspiram em O Regresso), faltam um maior cuidado já que nem sempre compreendemos a coreografia da ação, pois os personagens parecem esbarrar na câmera, que também se chacoalha e mergulha na ação conforme a movimentação dos personagens, o que acaba chamando a atenção para si mesmo e para o virtuosismo do trabalho de câmera (e o primeiro grande encontro entre os mosqueteiros acaba se prejudicando um pouco por conta disso).
Soando sempre como uma experiência grandiosa, o filme ainda é tecnicamente espetacular, impressionando em seu trabalho técnico: O design de produção cria um universo realista e sóbrio, retratando bem a sujeira e miséria da época em contraste com a beleza dos palácios (que mesmo espetaculares e grandiosos, ainda parecem carregar na sujeira do período), impressionando também nas paisagens grandiosas e belíssimas que vemos ao longo do filme. Enquanto isso, a fotografia se equilibra muito bem entre a grandiosidade e a sobriedade, e os figurinos são belíssimos, seja na pompa aristocrática ou na praticidade dos demais, complementando também com a maquiagem (a sequência do baile de máscaras é o ponto alto neste aspecto). Já a trilha sonora de Guillaume Roussel, embora com ótimos temas, se inspira tanto no trabalho de Hans Zimmer que quase chega a soar como plágio (e as marcas de Zimmer aparecem com frequência desde o uso de sons potentes a composições que vão em um crescendo).
Talvez ressaltando pela primeira vez em dado momento do filme se tratar de quatro mosqueteiros (confesse: você já se questionou porquê é Os Três Mosqueteiros e não Quatro) e encerrando com um gancho para o próximo filme (com direito a Continua na tela) que tem tudo para ser um encerramento ainda mais espetacular, o filme ainda conta com ótimas atuações (François Civil é eficiente e traz determinação e algum carisma como D’Artagnan, Vincent Cassel confere dimensão a Athos, mesmo com menos tempo de tela, enquanto Romain Duris e Pio Marmaï funcionam muito bem como Aramis e Porthos, respectivamente, Louis Garrel e Vicky Krieps estão muito bem, especialmente Krieps que torna a rainha Anne uma figura trágica, e se Eric Ruf de la Comédie Française e Jacob Fortune-Lloyd pouco podem fazer respectivamente, como o Cardeal de Richelieu e o Duque de Buckingham, Eva Green busca tornar sua Milady em uma figura enigmática, como se sempre estivesse um passo a frente de todos), uma montagem muito boa (que confere ritmo ao filme, jamais se tornando cansativo, e as sequências de ação surgem bem montadas, como a de um grande conflito em uma cerimônia no clímax), ótimos efeitos especiais (que surgem bastante discretos) e um ótimo design de som (que acerta ao cortar a trilha sonora e deixar os efeitos sonoros em algumas das sequências de ação, e o clímax em uma cerimônia consegue evocar todo o terror da situação em função disso), enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais

PS.: Há uma cena adicional durante os créditos finais.

Baseado no Livro de Alexandre Dumas.

Gênero: Aventura
Duração: 121 Minutos
Classificação Indicativa: 14 Anos (Violência, Conteúdo Sexual e Drogas Lícitas)
Distribuição: Paris Filmes
Direção: Martin Bourboulon
Elenco: François Civil, Vincent Cassel, Romain Duris, Pio Marmaï, Louis Garrel, Vicky Krieps, Lyna Khoudri, Jacob Fortune-Lloyd, Eric Ruf de la Comédie Française e Eva Green

Deixe um comentário