O Silêncio Da Vingança

OSilencioDaVinganca

O Silêncio Da Vingança é um experimento narrativo extremamente ousado e é muito eficaz como filme de ação, embora sua execução encontre problemas.
Trazendo um homem comum em busca de vingança após a morte do seu filho, O Silêncio Da Vingança marca o retorno de John Woo na direção (que foi responsável por Missão: Impossível 2 – o menos bom da franquia, mas ainda assim, um filme excelente – e clássicos noventistas como Fervura Máxima e o excelente A Outra Face) e seu primeiro filme americano em 20 anos (quando realizou o ótimo O Pagamento), o diretor frequentemente acerta e erra na mesma medida: Se acerta ao investir a metade do filme para ressaltar os aprendizados do protagonista e da sua dor pessoal (o que nos aproxima parcialmente do protagonista e do seu estado emocional), ele erra ao investir tempo demais nisso, se demorando para a ação de fato começar, o que torna o ritmo oscilante. E ao se demorar um pouco mais que o ideal para a ação engatar, ficamos na expectativa de uma ação digna da expectativa criada, só é uma pena que se revela comum em grande parte do tempo (com exceção, é claro, de duas excelentes sequências de ação, mas que ainda assim, empalidecem perto do excepcional John Wick 4: Baba Yaga). Além disso, o filme erra ao nos colocar diretamente na ação logo na primeira cena, já que naquele ponto não compreendemos o motivo da perseguição e adiar para mais tarde o motivo da mesma impede o filme de uma abertura bem mais impactante (sem contar o inexplicável momento que a câmera de Woo simplesmente pausa duas vezes para dar um zoom nos olhos da esposa do protagonista no hospital). Ainda assim, o filme tem sequências de ação, que embora relativamente curtas e comuns, são intensas e bem orquestradas, onde entrega ao menos dois momentos excelentes: O primeiro confronto do protagonista com um bandido se destaca pela coreografia brutal e improvisada dos seus oponentes, enquanto a sequência da escadaria no clímax é fantástica ao ser rodada em um longo plano, tornando-se impactante ao conseguir ser clara em sua condução e coreografia, embora não atinja o resultado extraordinário visto similarmente em Atômica.
Além disso, ao ancorar a narrativa em um realismo brutal, que sim, é eficiente dentro da proposta do filme, mas que ao trazer uma pessoa comum como vigilante resvala no vigilantismo inconsequente disfarçado de vingança (algo que discuti em minha crítica do excelente A Justiceira), e com isso, o filme ressalta a jornada do protagonista rumo à própria destruição, e a falta de diálogos, é claro, impede o filme de tentar discutir suas ações (já que o personagem chega a causar uma guerra entre gangues), e seria mais fácil comprar isso caso adotasse uma narrativa mais estilizada e com pouca tendência ao realismo. Apesar disso, o diretor encontra maneiras de sustentar o aspecto autodestrutivo da vingança através do inesquecível momento da lágrima de bala (onde trabalha com a montagem ao mostrar uma lágrima descendo do rosto para quando cair, o plano seguinte seja a de uma bala caindo no chão), da constante aparição do filho do protagonista para ele (ressaltando para o espectador o que aquilo vai causar ao protagonista) e através do treino de tiro, em que vemos o protagonista a partir do buraco do alvo (nos tornando, a partir do olhar da câmera, vítimas do próprio protagonista).
Mas é em seu experimento narrativo que O Silêncio Da Vingança se torna realmente interessante de assistir, e que me leva a perdoar suas falhas: Tomando uma decisão ainda mais radical que a dos dois Um Lugar Silencioso ou do recente Ninguém Vai Te Salvar ao criar uma narrativa de filme de ação sem diálogos (o máximo que vemos são textos, vozes paralelas em rádios, falas extremamente curtas de figurantes ou da esposa do protagonista), o roteiro investe em uma história extremamente batida no gênero, e a partir disso, busca sustentar sua narrativa pela qualidade da ação e pela força das imagens e do elenco. E se o filme parece se esforçar para sustentar a história sem diálogos (há momentos que realmente me levaram a questionar porquê ninguém está falando), o roteiro busca tornar mais direto e simplório a relação entre os personagens e até mesmo na caracterização dos mesmos (como o vilão, cujo rosto tatuado é o estereótipo de traficante mexicano), investindo um tempo considerável em nos convencer das habilidades crescentes de seu protagonista, que aprende a lutar, a se defender, atirar e dirigir velozmente (além de lidar com seu drama pessoal, onde não só perdeu o filho, mas também a própria voz). Além disso, o filme explora bem os momentos mais dramáticos, especialmente nos momentos iniciais que exploram a tragédia de perder um filho e o vazio existencial que fica. E com isso, o filme se torna dependente da trilha sonora e de seu design de som, e ambos não decepcionam: Embora a trilha sonora tenha uma tendência ao melodrama, ela se mostra funcional em grande parte do tempo, enquanto o design de som é espetacular na imersão narrativa que nos causa, sendo certeiro nos momentos que a trilha sonora deve tomar conta da tela, além é claro, da excelente qualidade dos efeitos sonoros.
Contando ainda com ótimas atuações (Joel Kinnaman mostra-se excelente em sua atuação física, convencendo da sua capacidade de lutar e também na sua capacidade de se expressar com os olhos), uma ótima fotografia (que volta a trazer o olhar afinado de John Woo para a composição dos seus planos, trazendo planos esteticamente belos como as ocasionais câmeras lentas, o reflexo a partir de um pêndulo de Newton ou aquele envolvendo diversas decorações de Natal em uma sala do vilão que quase converte o espaço em um inferno, e que claro, são banhados na cor vermelha), bons efeitos especiais, enfim, é um ótimo filme.
Nota: 9!!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais e no Amazon Prime Video

Gênero: Ação
Duração: 104 Minutos
Classificação Indicativa: 16 Anos (Violência Extrema e Drogas Ilícitas)
Distribuição: Paris Filmes
Direção: John Woo
Elenco: Joel Kinnaman, Scott Mescudi, Harold Torres e Catalina Sandino Moreno

Deixe um comentário