A Pior Pessoa Do Mundo

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Me chamo Maurício. Recém fiz 30 anos de idade. Uma idade considerada “jovem demais para ser velho, e velho demais para ser jovem”. Não imaginava que chegaria nessa idade tão rápido (especialmente quando ainda era criança ou jovem, afinal, somos todos idiotas quando somos jovens), mas pisquei e cá estou com 30 anos. Cada vez que o tempo passa (e envelhecendo no processo), eu olho para trás e reconheço as minhas próprias virtudes e defeitos, a minha própria história pessoal, os altos e baixos, as dúvidas e receios. De certa forma amadureci. Mas também me questiono sobre o futuro, sobre as coisas que serão inevitáveis na vida de todos, de como a minha vida pode mudar em um piscar de segundos, e assim como lá atrás eu não fazia ideia de como estaria no futuro, hoje também não faço ideia do que a vida me reserva daqui pra frente. E este A Pior Pessoa Do Mundo compreende esses duros questionamentos de uma geração que, como a minha, viveu tantas mudanças (sociais, econômicas e mundiais) que hoje estamos tão perdidos no mundo quanto o resto das pessoas.
Nos ancorando na protagonista Julie e nas suas desventuras amorosas e pessoais, A Pior Pessoa Do Mundo segue uma narrativa relativamente simples, flertando por vezes com obras sobre a vida (algo que também se aplica à abordagem realista por parte da direção), e aí reside seu principal atrativo. Nos levando a acompanhar a protagonista, o filme encanta ao trazer uma personagem interessante e adorável, mas falha e contraditória, e o maior mérito disso é a atriz Renate Reinsve, que em uma bela atuação consegue conferir calor humano e naturalidade a Julie, assim como as muitas imperfeições e contradições da protagonista, não temendo retratá-la por vezes como uma babaca cruel, e a atriz é corajosa ao abraçar todos esses aspectos da sua personagem evitando tornar sua personagem insuportável no processo (e de fato, é uma personagem difícil, e a atriz se sai muito bem nesse aspecto).
E de certa forma, A Pior Pessoa Do Mundo é um filme que conversa com a gente, muito por conta dos seus inspirados diálogos ou momentos, especialmente aqueles que retratam o quão perdidos os personagens estão no mundo ou na vida (o longo monólogo de Aksel foi pessoalmente tocante, tendo em vista sua visão cultural mais tátil e adepta à mídia física, como eu) ou aqueles que retratam a contraditoriedade de seus personagens e sua própria visão de mundo. Mas há momentos que o filme beira o sublime, e que assim como na vida, surgem como momentos mágicos e marcantes em nossa vida, e duas sequências do filme são absolutamente inesquecíveis: Aquela que coloca dois personagens para testar os limites do que pode ser traição encanta pela troca de olhares, de conversas e desafios que revelam o impulso do desejo, mas sem poder se tocar, mas que ainda assim revela sutilmente que ali foi uma noite tórrida (como esquecer do plano da fumaça em câmera lenta?), mas a outra – e minha favorita – é a que mostra o tempo congelando, onde acompanhamos a protagonista correndo enquanto vemos o redor dela totalmente congelado, até encontrar sua paixão e passar horas com ela. É uma sequência de uma beleza lúdica encantadora e que apesar de óbvia em como revela que ao nos apaixonarmos por alguém, o tempo parece parar, ela também encanta pelo ótimo trabalho de efeitos especiais e claro, pelo imenso trabalho que deve ter dado à produção. São momentos assim que tornam o filme muito interessante, e mais ainda, que nos aproxima de seus personagens e de suas próprias reflexões e conflitos. Ainda assim, me vi frequentemente mais fascinado pelas reflexões que o filme me causou do que os demais aspectos do filme (a fotografia aposta em uma bela paleta de cores naturais), e assim como a vida, o roteiro não possui uma estrutura clara, permitindo uma narrativa fluída (mesmo cansando em alguns poucos momentos), mas ainda assim, mesmo envolvido com o filme, me senti emocionalmente distante de sua narrativa.
Contando ainda com ótimas atuações (se Renate Reinsve é o grande destaque, seus companheiros de cena não ficam atrás, e Anders Danielsen Lie e Herbert Nordrum se destacam ao criarem personagens que nos cativa com suas personalidades diferenciadas, nos levando a compreender porquê a protagonista se apaixona por eles, e o roteiro merece créditos por não nos levar a desgostar de um ou de outro), no final das contas, é nas nossas contradições e evoluções que aprendemos com a vida, nas mudanças e acontecimentos inesperados que acontecem, em nossas dores e decepções que causamos a nós mesmos e aos outros, e como boa parte das pessoas, também buscamos e questionamos nosso lugar no mundo e também o que o futuro nos reserva. E mesmo que não façamos a menor ideia de quando chegaremos lá, não duvido que ainda estaremos em dúvida do que a vida nos reserva e do que estamos fazendo de fato com ela quando de fato chegarmos lá.
Nota: 9!!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais e no Amazon Prime Video

2 Indicações ao Oscar 2022 nas categorias de Melhor Filme Internacional e Melhor Roteiro Original.

Gênero: Drama
Duração: 128 Minutos
Classificação Indicativa: 16 Anos (Violência, Conteúdo Sexual e Drogas Ilícitas)
Distribuição: Diamond Films
Direção: Joachim Trier
Elenco: Renate Reinsve, Anders Danielsen Lie e Herbert Nordrum

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