Anatomia De Uma Queda

AnatomiaDeUmaQueda

Anatomia De Uma Queda envolve, e mesmo ocasionalmente cansativo, jamais deixa de nos prender à história.
Trazendo uma mulher suspeita de ter assassinado o marido e o julgamento que se segue, Anatomia De Uma Queda busca a partir da sua premissa criar uma narrativa envolvente e fascinante em seus detalhes, e como bom drama de tribunal, o filme envolve e fascina ao buscar retratar todas as possibilidades possíveis do que pode ter causado a queda assim como os detalhes investigativos (inclusive o mais surpreendente, em que testam o volume da voz a partir de determinada distância para ver se era possível ouvir). E com isso, o filme vai aos poucos conferindo ambiguidade e instigando pontos que nos leva a repensar o que está sendo contado, ou mesmo mudar nossa posição em relação ao julgamento ao longo do filme (como a leitura de uma breve passagem da autora do livro que traz ecos do excepcional Instinto Selvagem), o que torna a narrativa sempre interessante.
Porém, falta ao filme o mesmo tratamento que a excepcional Primeira Temporada de American Crime Story teve, onde lá acompanhávamos todas as estratégias de réu e defesa (em que pese também o sistema judiciário francês, diferente do americano), aqui ficamos a partir de certo ponto quase que exclusivamente no julgamento, e mesmo quando o filme sai dali para alguns respiros, acabam sendo relacionados de alguma maneira ao mesmo, o que acaba tornando o filme ligeiramente cansativo, pouco dinâmico em termos de ritmo e visualmente repetitivo. Compreendo que o filme busca explorar diversos pontos (e que são necessários para o desenrolar do julgamento), mas chega um ponto que o roteiro parece atirar possibilidades a torto e a direito, divagando suposições, e abandonando essas possibilidades logo depois. Felizmente, a diretora Justine Triet se mantém sempre no controle da narrativa, permitindo que o julgamento se desenrole com a devida calma e evitando chamar atenção para si, onde aposta em planos que ressaltam a força das atuações e de qualquer detalhe que possa vir a ser útil no julgamento (e o único momento que a diretora chama a atenção é no longo plano em que o menino Daniel depõe em julgamento enquanto a câmera se movimenta entre a esquerda e a direita para indicar qual advogado está falando naquele momento).
Contando ainda com excelentes atuações (Sandra Hüller está fantástica, e a atriz é inteligente não só ao manter um semblante disciplinado e que exala a inteligência daquela mulher – e de como aquilo pode soar ambíguo -, mas também o carinho palpável que sente pelo filho – como o frequente olhar de preocupação que ela lança para ele durante o julgamento, que ela sabe que aquilo poderá mudar a visão que ele tem dela -, e a sequência do seu monólogo em uma gravação é espetacular em sua entrega autêntica e realista, Milo Machado Graner se sai muito bem nas suas sequências mais fortes, mais ainda, atua com imensa naturalidade que a cegueira do personagem não é percebida cedo, e também impressiona ao retratar uma criança recebendo informações demais para algo ao qual ele não estava nem um pouco preparado para ouvir, e merece destaque o cachorrinho Messi que em apenas uma cena impressiona com sua atuação canina), enfim, é um ótimo filme.
Nota: 9!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais e no Amazon Prime Video

Vencedor do Oscar 2024 de Melhor Roteiro Original, foi também indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Direção – Justine Triet, Melhor Atriz – Sandra Hüller e Melhor Montagem.

Gênero: Drama/Suspense
Duração: 151 Minutos
Classificação Indicativa: 14 Anos (Violência, Drogas Lícitas e Linguagem Imprópria)
Distribuição: Diamond Films
Direção: Justine Triet
Elenco: Sandra Hüller, Swann Arlaud, Milo Machado Graner, Antoine Reinartz, Samuel Theis, Jehnny Beth, Saadia Bentaïeb, Camille Rutherford, Anne Rotger, Sophie Fillières e Messi

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