Orion e o Escuro

OrioneoEscuro

Lançado Diretamente no Netflix no Brasil e nos EUA. É natural que durante a infância, sentíamos medos de todas as formas possíveis que devido ao nosso desconhecimento da idade, pareciam ganhar contornos bem maiores do que deveriam. Mais ainda é que mesmo depois de adultos, ainda somos capazes de sentir medo, mesmo que demonstremos maturidade o bastante para aprender a lidar com nossos receios. E este Orion e o Escuro compreende isso, e é uma animação que remete a Divertida Mente e que é fascinante em seus temas e incrivelmente imaginativa e encantadora.
Trazendo Orion, um garoto com imenso medo do escuro conhecendo o próprio Escuro que o levará em uma viagem para superar seus medos, Orion e o Escuro busca trazer uma história que remete à obra-prima Divertida Mente onde busca trabalhar conceitos e ideias abstratas e complexas de forma lúdica e simples, e através dos medos e receios do protagonista, acabamos nos aproximando de Orion, e projetamos nele as nossas memórias e medos infantis, criando uma identificação com o personagem. Além disso, o filme é enxutíssimo e bastante objetivo em sua história, se desenrolando em um ritmo divertido e gostoso e que junto da leveza e do peso da narrativa, tornam o filme uma experiência bastante envolvente. Além disso, o filme encanta com a imaginação da sua história, que busca explorar seus conceitos e ideias até o limite, ao mesmo tempo que os apresenta de forma lúdica e que novamente, nos fascina ao relacioná-la ao nosso cotidiano (como no momento em que o trabalho das Entidades da Noite – onde a Insônia se torna uma – é explicado).
Trazendo um roteiro assinado por Charlie Kaufman (responsável por obras-primas como Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças e Anomalisa) onde basicamente ele cria uma versão do maravilhoso Divertida Mente sob o seu filtro particular e que traduz as suas principais peculiaridades como roteirista, o que acaba aproximando Orion e o Escuro de obras suas, que vão desde Adaptação. (que lidava com uma narrativa complexa e cheia de camadas e que uma delas trazia um narrador tentando adaptar um livro, e que aqui adota novamente a utilização de um narrador consciente da história sendo contada e de como encontra maneiras de expandir o que está sendo contado) a Quero Ser John Malkovich (como ao trazer sequências dentro da mente humana), sem contar o próprio traço autoral de seus diálogos, que aqui saídos da boca de uma criança de 12 anos, não poderiam traduzir melhor os anseios e neuroses naturais de uma criança ansiosa, mas que também servem facilmente para qualquer jovem ou adulto passando por crises pessoais. E aqui e ali também encontramos traços de seu típico humor sombrio e ligeiramente anárquico que diverte imensamente (como na sequência que a Entidade Sono usa de maneiras bem atípicas para colocar as pessoas para dormir ou a inesperada participação do diretor de documentários Werner Herzog como narrador de um breve vídeo, além do momento que até mesmo as Entidades da Noite revelam suas próprias inseguranças). E mesmo as autoindulgências de Kaufman como roteirista, especialmente quando alonga seu desfecho (diluindo um pouco da emoção do desfecho), podem até ser perdoadas devido à imaginação apresentada e do tocante conceito de continuar as histórias que nossos pais nos contavam quando éramos crianças.
Enquanto isso, o filme fascina ao discutir a nossa relação com o medo e até mesmo com o escuro, onde a partir disso, o roteiro nos faz relacionar com o nosso medo do desconhecido, de não saber o que está por trás da ausência de luz. E com isso, o filme deixa lições tocantes que, embora inevitáveis dentro de filmes do gênero, são belas ao nos estimular e a nos desafiar a não ter medo do desconhecido, e que sim, ele faz parte da vida, e ainda assim, seguimos adiante, pois não sabemos se o que virá depois será algo bom ou ruim, mas que vale a pena tentar.
Contando ainda com uma animação muito boa (que, surpreendentemente para os padrões da DreamWorks Animation, traz uma animação mais simples no design dos personagens humanos, mas que se sobressai no design de personagens e de cenários mais abstratos, o que permite uma liberdade maior para os animadores experimentarem mais, algo que se traduz no fantástico design de produção, que encanta nos momentos que entramos na mente humana, e gosto de como o subconsciente é traduzido visualmente no terceiro ato), uma ótima dublagem, uma eficiente trilha sonora, uma bela fotografia (que aproveita ao máximo as passagens mais grandiosas e abstratas do filme), enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível no Netflix

Baseado no Livro de Emma Yarlett.

Gênero: Animação/Aventura
Duração: 90 Minutos
Classificação Indicativa: 10 Anos (Temas Sensíveis)
Distribuição: Netflix
Direção: Sean Charmatz
Elenco de Vozes (Versão Original): Jacob Tremblay, Paul Walter Hauser, Colin Hanks, Mia Akemi Brown, Ike Barinholtz, Nat Faxon, Golda Rosheuvel, Natasia Demetriou, Aparna Nancherla, Carla Gugino, Matt Dellapina e Angela Bassett

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