A Batalha Do Biscoito Pop-Tart

ABatalhaDoBiscoitoPop-Tart

Lançado Diretamente no Netflix no Brasil e nos EUA. A Batalha Do Biscoito Pop-Tart julga ser uma comédia extremamente hilária e genial em seu humor, mas é só sem graça e desperdiça um grande elenco.
Buscando contar uma disputa entre as duas principais empresas de cereais em pleno anos 60, A Batalha Do Biscoito Pop-Tart parte dessa premissa para criar uma narrativa que flerta com o exagero e que usa desse conceito para transformar essa disputa como se fosse a corrida espacial. A ideia até é boa e tem muito potencial para o humor (já que mistura figuras reais com fictícias), porém, o resultado só não é um desastre absoluto já que a produção é impecável e o elenco é de primeira. E ainda assim, o roteiro aposta em uma série de piadas que ora tiram um sorrisinho (como aquela do corredor) ora são ridículas demais para funcionar (o que é aquela sequência do funeral e da manifestação de mascotes?) e pior, parece realmente acreditar que suas piadas são realmente engraçadas (e não são), e a direção também não parece fazer ideia de criar um centro de humor, já que o humor do filme salta do absurdo para o besteirol que passa para o de tiradas envolvendo gírias e trocadilhos, que nem mesmo a legendagem brasileira parece ter entendido (e o que dizer da trilha sonora, que deixa tudo mais exagerado sem ser engraçado?). Mas o pior de tudo é a capacidade impressionante de desperdiçar vários talentos cômicos, reduzindo-os a cenas curtas que não deixam nenhuma marca no espectador além das boas caracterizações, mas que aqui encontra-se presa ao humor do diretor Jerry Seinfeld (que além de dirigir e ser o protagonista, é também um dos roteiristas, aliás, devo ressaltar que nunca assisti à conhecida série Seinfeld, onde ele também atuava e escrevia). E sou capaz de apostar que alguns dos artistas superam o roteiro talvez por eu gostar muito dos seus intérpretes (tais como Melissa McCarthy, Hugh Grant e Peter Dinklage).
Ao menos interessante em seus aspectos técnicos, o filme é relativamente eficaz graças ao belo design de produção, os ótimos figurinos e a boa fotografia, mas dizer isso de uma comédia não é lá o melhor sinal, não é?
Nota: 4!!!!
Status do Filme: Disponível no Netflix

Gênero: Comédia
Duração: 93 Minutos
Classificação Indicativa: 12 Anos (Violência, Drogas Lícitas e Linguagem Imprópria)
Distribuição: Netflix
Direção: Jerry Seinfeld
Elenco: Jerry Seinfeld, Melissa McCarthy, Jim Gaffigan, Max Greenfield, Hugh Grant e Amy Schumer

Divertida Mente 2

DivertidaMente2

Lançado em 2015, a animação Divertida Mente revelou-se uma experiência divertida e sempre imaginativa e encantadora, mas também incrivelmente reflexiva e ambiciosa em suas metáforas ao comentar sobre a depressão e de como as nossas emoções nos moldam e nos afetam de alguma forma. Mais do que isso, é uma obra-prima que nos marca profundamente na jornada emocional de Riley e das próprias Emoções, mas também em como nos deixa a mensagem de que a tristeza é parte essencial da nossa jornada na vida e que ela pode ser vivida com a alegria. Depois de muito sucesso e alguns prêmios, confesso que sempre considerei o filme redondinho e sem necessidade para uma continuação, o que não impediram de fazer um novo filme e Divertida Mente 2 pode não superar o anterior, mas é uma continuação maravilhosa e que expande ainda mais suas ideias e temas.
Trazendo a Riley chegando à puberdade onde novas emoções surgem (em especial a Ansiedade), Divertida Mente 2, assim como o anterior, volta a abordar temas complexos e ambiciosos de forma lúdica e simples, ao mesmo tempo em que cria uma aventura sempre movimentada e divertida. Surpreendente ao conseguir explorar novos aspectos da mente humana através do roteiro (e que é ilustrado brilhantemente pelo design de produção), a história pode até de certa maneira repetir pequenos pontos da estrutura do anterior (a Riley mais uma vez passa por um tumulto pessoal enquanto as emoções tentam controlar os sentimentos extremos que passam a vir dela), mas a imaginação do filme é tamanha que se torna um exercício fascinante descobrir os novos aspectos que surgem a partir das novas emoções. Além disso, o roteiro brilha ao tentar explorar ao máximo as possibilidades da história, o que leva a momentos em que vemos as Emoções de outras pessoas ou aqueles em que as próprias Emoções questionam a si mesmas ou são levadas a extremos que nem elas estavam preparadas (e gosto do momento que a Alegria tem um breve momento de surto ou aquele que a Ansiedade deixa escapar uma lágrima), trazendo também piadas que divertem pelo inesperado (como a hilária sequência do Poço do Sarcasmo ou aquela dentro de um cofre, que traz personagens hilários).
Mas é justamente em seus temas que Divertida Mente 2, assim como o anterior, brilha: Mostrando que crescer é um processo extremamente difícil, em que percebemos que partes da nossa personalidade e as emoções antes tão frequentes na nossa vida passam a mudar com frequência alarmante, podendo se diluir com o tempo (algo que podemos perceber pela maneira mais disciplinada das Emoções dos pais de Riley) para dar lugar a novas emoções, que embora por vezes nos causem dor como as dúvidas e anseios diversos da vida ou uma felicidade tão grande como estar apaixonado, são necessárias para atravessar essa jornada que é a vida.
E a Ansiedade em particular é o grande destaque, já que o roteiro e os próprios animadores a abordam de maneira brilhante, mas sensível e natural: O design da personagem (assim como a Convicção que nasce dela) remete a um nervo, e seu sorriso é perfeito em como ela pode ser aliada e maligna ao mesmo tempo (repare como ela tenta parecer benevolente). Mais que o mal desse novo século, a ansiedade por vezes nos nega prazeres por tentar prever coisas que só nascem na nossa cabeça no intuito de, claro, nos preparar para o pior/melhor de forma a não sofrermos tanto (sem perceber que isso só aumenta o nosso sofrimento). Logo, quando vemos sequências como aquela que retrata a Ansiedade comandando um centro de operações na Ilha da Imaginação onde ela solicita o mais rápido possível todas as situações hipotéticas mais absurdas, possíveis e horríveis como forma de acalmar os nervos dela, confesso que como pessoa ansiosa (e diagnosticada com autismo), é difícil não se relacionar com o retratado em tela (e até mesmo rir de situações assim por reconhecermos que já as vivemos antes). Mais do que isso, o filme retrata como a Ansiedade jamais se satisfaz enquanto ela não aplacar o seu nervo, buscando criar uma imensa tempestade para formar uma grande ideia (quem viu o filme, entenderá) que a leve a continuar os planos infinitos que ela imaginou, impedindo que curtamos o presente e aniquile nosso contato com as nossas emoções (ou até nos mudando), levando a um descontrole emocional que gera um dos momentos mais especiais do filme ao retratar uma crise de ansiedade.
E mais uma vez, o filme emociona tanto pelo nosso envolvimento com a história como pela nossa identificação com as situações retratadas (que racionalizam nossos tumultos internos), e com isso, o filme nos leva a olhar para um espelho da nossa mente, como se buscasse entender o que nossas Emoções estão pensando e fazendo ultimamente. E se o anterior é muito lembrado pela sua capacidade de mexer com as nossas emoções de forma única, dessa vez, confesso que as lágrimas podem ter vindo menos (o que não quer dizer muita coisa), só que mais do que nunca, talvez essa continuação nos leve a refletir muito mais sobre a nossa vida, e que as lágrimas que surgem sejam fruto das nossas reflexões, constatações e sentimentos que Divertida Mente 2 expôs e provocou tão bem.
Contando ainda com uma animação espetacular (que como de praxe da Pixar, encanta com a beleza dos cenários virtuais e da qualidade técnica), uma ótima dublagem (merece destaque Maya Hawke que confere bem a energia e o nervosismo frequente da Ansiedade), uma bela fotografia, um 3D muito bom (que torna o visual e os próprios cenários ainda mais expansivos), uma boa trilha sonora e design de som, enfim, é um filme excelente.
Nota: 10!!!!
Status do Filme: Em Exibição Nos Cinemas

PS.: Há uma cena adicional após os créditos finais.

Continuação de Divertida Mente.

Gênero: Animação/Aventura
Duração: 96 Minutos
Classificação Indicativa: Livre (Violência Fantasiosa)
Distribuição: Disney
Direção: Kelsey Mann
Elenco de Vozes (Versão Original): Amy Poehler, Maya Hawke, Kensington Tallman, Liza Lapira, Tony Hale, Lewis Black, Phyllis Smith, Ayo Edebiri, Adèle Exarchopoulos, Paul Walter Hauser, Diane Lane e Kyle MacLachlan

Nimona

Nimona

Lançado Diretamente no Netflix no Brasil e nos EUA. Nimona é uma animação que conquista pela história e pela sua energia, mas principalmente por conversar tão bem sobre seus temas.
Trazendo uma história que envolve um cavaleiro procurado pelo Reino e uma garota capaz de se transformar, Nimona adota uma história que, como bom exemplar de fábula, envolve nas lições e temas que aborda, mas também ao trazer um frequente dinamismo à narrativa que sempre a torna movimentada e empolgante (mesmo quando passa por momentos ligeiramente clichês), e com isso, o roteiro traz diversos conflitos dramáticos que enriquecem a história de maneira a realmente nos envolver com os dramas dos personagens (a relação entre Ballister e Ambrosius acaba ganhando contornos ainda mais intensos e dramáticos). Além disso, o filme garante surpresas através de reviravoltas eficazes no roteiro ou por algumas piadas que funcionam (desde aquelas que envolvem o humor malvadinho de Nimona ou as mais simples, porém eficazes, como aquela que Ambrosius faz um desabafo para alguém, apenas para se revelar uma conversa imaginária, e não tive como não dar um sorrisinho quando o filme faz uma referência maravilhosa a Kick-Ass – Quebrando Tudo através da escolha de uma música que surgia no momento que revelava a Hit-Girl naquele filme, afinal, é a eterna Hit-Girl da atriz Chloë Grace Moretz quem dubla Nimona), e a partir da metade, o filme ganha imensa força ao convergir todas as tramas de maneira perfeita e emocionalmente impactante. E embora o humor excessivamente juvenil da personagem Nimona irrite um pouco por parecer inicialmente deslocado da narrativa mais pesada (que já lida com tramas conspiratórias, traições e preconceitos), aos poucos Nimona nos ganha devido ao seu carisma e à sua energia anárquica e divertida. Além disso, o filme surpreende ao trazer um casal homoafetivo na história e que são retratados de forma natural, sem jamais ressaltar aquilo como algo absurdo dentro do universo do filme.
Mas é na discussão de seus temas que torna Nimona ainda mais interessante, enriquecendo-o no processo: Nem um pouco sutil ao trazer metáforas que relatam como minorias sempre são vistas com maus olhos (especialmente a LGBTQIAPN+), o roteiro é inteligente ao utilizar do mesmo ponto do roteiro de Star Wars: Os Últimos Jedi (se lá qualquer um poderia ser um Jedi, aqui qualquer um pode ser um cavaleiro), apenas para ser desfeito após um golpe cruel. E a partir disso o filme comenta como o medo do progresso e da evolução da sociedade sempre acaba nos atrasando como humanidade, e o pior de tudo é que, mesmo quando a maioria parece abraçar a minoria, sempre haverá alguém disposto a manter o status quo. E com isso, o filme também é realista ao mostrar como o ódio nos afasta e como ele é uma força tão destrutiva que corrompe a todos (até mesmo a mais inocente das pessoas, algo que também é comprovado no clímax quando alguém se transforma em uma nuvem escura destrutiva), sendo certeiro também ao retratar que o progresso e a evolução da sociedade sempre chega, e que paradigmas precisam ser quebrados para o novo nascer. Mais ainda, o filme fascina ao abraçar a ideia de questionar o status quo, as instituições e a nossa própria essência, e a forma como Nimona descreve a sua transformação em diversos animais e até pessoas como libertadora, é tocante ao criar um belo paralelo que qualquer pessoa LGBTQIAPN+ já passou alguma vez na vida.
Audacioso como seus personagens, Nimona ainda comprova sua força fora da tela, já que a animação começou a ser realizada ainda no saudoso Blue Sky Studios (da franquia A Era Do Gelo) e que após a compra da Fox Films pela Disney, o estúdio do rato (que adora se pagar de progressista) fez sua tática predatória e fechou o estúdio de animação da Fox e cancelou os projetos (incluindo Nimona, que já estava em 70% dos trabalhos de Layout). Quis o destino Nimona ser revivido pela Netflix, ser lançado ano passado, receber elogios e ainda ser indicado a várias premiações (onde além do Oscar 2024, foi a animação que mais recebeu indicações ao Annie Awards, especializado na área), enquanto as animações e alguns filmes da Disney amargaram fracassos.
Contando ainda com uma animação muito bem realizada (que adota uma série de estilos visuais marcantes, por vezes soando rudimentar, mas que acaba conferindo um charme extra ao filme, e gosto dos detalhes sutis que os animadores conferem aos personagens que os tornam mais humanos, como a breve troca de olhares entre Ballister e Ambrosius em um momento do filme), uma ótima dublagem (Chloë Grace Moretz confere imensa energia a Nimona e Riz Ahmed faz um belo trabalho ao evocar suas várias transformações pessoais ao longo do filme), uma bela fotografia, um design de produção excepcional (que encanta com o Reino criado, retratado quase como uma sociedade utópica futurista), uma boa trilha sonora, enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível no Netflix

Baseado na Graphic Novel de ND Stevenson.
Indicado ao Oscar 2024 de Melhor Filme de Animação.

Gênero: Animação/Aventura
Duração: 99 Minutos
Classificação Indicativa: 12 Anos (Violência)
Distribuição: Netflix
Direção: Nick Bruno e Troy Quane
Elenco de Vozes (Versão Original): Chloë Grace Moretz, Riz Ahmed, Eugene Lee Yang e Frances Conroy

Está Tudo Bem Comigo?

EstaTudoBemComigo!

Lançado Diretamente no Max no Brasil e nos EUA. Está Tudo Bem Comigo? agrada pelo seu bom humor e pela leveza da narrativa, mas principalmente pela intimidade que nos aproxima dos personagens.
Trazendo a história de duas amigas que têm sua amizade testada quando uma delas começa a descobrir sua sexualidade enquanto outra é promovida no trabalho, Está Tudo Bem Comigo? surge como uma agradável surpresa do gênero, onde aposta menos em em criar situações engraçadinhas (a comediante Tig Notaro – que também dirige – faz uma ponta divertidíssima e com uma caracterização hilária) e mais na intimidade das protagonistas para nos aproximarmos delas e compreendermos seus conflitos pessoais. E nesse aspecto, merece destaque a sensibilidade com que o roteiro e a direção aborda a descoberta sexual da personagem Lucy, onde a mesma passa por uma série de questionamentos, anseios e dúvidas sobre a própria sexualidade e a mudança que isso causará em sua rotina e na própria vida, além disso, o bom humor da narrativa faz com que os momentos dramáticos fiquem equilibrados, sem um anular o outro.
E mesmo que o roteiro encontre dificuldades em equilibrar os focos da história (o filme parece que vai lidar mais com a jornada pessoal de Lucy, mas cria uma outra tangente na história), ele acaba pecando em seu segundo ato ao criar um conflito artificial no intuito de adiar o desfecho da história e inchá-la mais um pouco, mesmo que ocorra um crescimento eficaz por parte das personagens a partir desse conflito.
Trazendo ótimas atuações (Dakota Johnson e Sonoya Mizuno formam uma excelente dupla em tela, e se Johnson surge adorável, delicada, e convincente em seu arco narrativo, Mizuno confere firmeza e imenso carinho pela amiga, enquanto Kiersey Clemons confere algum carisma a sua personagem, embora eu considere que o roteiro apele para que sua personagem ultrapasse alguns limites como colega de trabalho), no final das contas, é o seu centro emocional (a amizade entre Lucy e Jane) que nos prende ao filme, e o crescimento por parte das personagens é tocante e com uma sinceridade tão bonita de se ver que quando o filme termina, ficamos com vontade de acompanhar mais das personagens, e não deve ter mérito maior do que esse em um filme.
Nota: 8,5!!!!
Status do Filme: Disponível no Max

Baseado em uma História Real.

Gênero: Comédia Dramática
Duração: 87 Minutos
Classificação Indicativa: 14 Anos (Conteúdo Sexual, Drogas e Linguagem Imprópria)
Distribuição: Max/Warner Bros.
Direção: Tig Notaro e Stephanie Allynne
Elenco: Dakota Johnson, Sonoya Mizuno, Jermaine Fowler, Kiersey Clemons e Molly Gordon

Till – A Busca Por Justiça

TillABuscaPorJustica

Till – A Busca Por Justiça peca pela abordagem visual, mas traz uma história real trágica e revoltante, que é elevada pela atuação avassaladora de Danielle Deadwyler.
Trazendo a história de uma mãe que após ter o seu filho único de 14 anos assassinado brutalmente, busca trazer justiça à trágica morte do seu filho, Till – A Busca Por Justiça volta a escancarar mais uma vez a partir de uma história real o período mais extremo do racismo (e o fato de que esse mal não tenha sido extirpado da sociedade só prova como a humanidade falhou), onde traz uma história que, embora inicialmente pouco segura em como aborda a dramaticidade da sua história, aos poucos ela vai se tornando mais confiante. Eficaz em expor o racismo da época (o filme é ambientado em 1955), o filme envolve e emociona em função da dor dilacerante de uma mãe, e na força descomunal que ela encontra para trazer alguma justiça ao filho (e não deixa de ser curioso de como a mídia parece tentar usar da dor de uma mãe para promover uma causa, mesmo que necessária), e a tragédia da história (que infelizmente, ainda continua nos dias de hoje) nos leva a se revoltar com o absurdo retratado na época.
No entanto, o filme peca por trazer uma abordagem visual que soa incompatível com a trágica história que está sendo narrada: Adotando um visual tão colorido que chega a parecer estilizado e fantasioso, diria que essa abordagem faria sentido em um musical clássico ou em um Vingança e Castigo, sou capaz de acreditar que a direção tinha a intenção de emular um estilo clássico influente do Technicolor, ou mesmo de destacar o contraste da beleza estética do filme com a da tragédia narrada. No entanto, mesmo trazendo um design de produção belíssimo e uma fotografia com cores expressivas, o resultado acaba tornando a narrativa pouco sutil, tornando aquilo que poderia ser sutil em artificialidade/caricatura por parte de seus atores (basta observar como os personagens racistas se comportam no filme), e isso compromete de certa maneira o que está sendo contado no filme, já que o tom caricatural bate de frente com a sobriedade que a direção leva o elenco e algumas das passagens do filme. E a diretora Chinonye Chukwu acerta nos momentos mais intensos do filme, como na sequência que mãe e filho se despedem e que a direção injeta ali a tristeza de uma mãe que não sabe que será a última vez que vê o filho, ou no excepcional longo plano que a protagonista defende seu filho no tribunal, e especialmente a sequência na funerária, que não há como negar, é aterrorizante e emocionalmente devastadora. Por outro lado, momentos como o dolly shot em que a protagonista recebe a notícia da morte do filho ou aquele que começa no caixão aberto e vai se distanciando até revelar a fila de pessoas para ver o corpo do menino, soam como mero exercício de estilo, que acabam diluindo esses momentos mais dramáticos.
Felizmente, a força e intensidade da história é tamanha que ela consegue contornar seus aspectos visuais e funcionar em sua dramaticidade. E certamente o principal fator para o sucesso do filme é a atuação de Danielle Deadwyler, e a atriz consegue nos levar a sentir desde o início o temor nem um pouco infundado de deixar o filho ir para uma região bastante racista, e ver o pior medo de um pai ou mãe acontecer para ela nos atinge em cheio. E a atriz convence e emociona nas passagens mais tristes e dramáticas, desde a maneira com que toca carinhosamente o cadáver destruído do filho ou o sutil momento que ela faz o nó de uma gravata para a testemunha, como se estivesse fazendo aquilo para o filho, e principalmente na longa sequência do seu testemunho e que em um longo plano de mais de 5 minutos, retrata a força e a dor da sua personagem de forma avassaladora. Mais ainda é ver como a personagem cresce ao longo do filme, onde encontra força a partir de uma dor que nunca vai sarar. E no entanto, há uma felicidade em vermos aquele plano final: A dor nunca irá sarar, claro, mas o pequeno Till permaneceu vivo na memória dela e na História, ao contrário dos racistas cuja vivência já está destinada ao lixo da História.
Contando ainda com ótimas atuações (Jalyn Hall confere carisma ao pequeno Till, Sean Patrick Thomas surge ótimo e confere imenso apoio emocional à protagonista, e o filme ainda traz uma participação de luxo da grande Whoopi Goldberg, que faz uma bela atuação), excelentes figurinos, uma bela trilha sonora, uma ótima maquiagem, enfim, é um filme muito bom.
Nota: 9!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais

Baseado em uma História Real.

Gênero: Drama
Duração: 131 Minutos
Classificação Indicativa: 14 Anos (Violência, Temas Sensíveis e Drogas Lícitas)
Distribuição: Universal Pictures
Direção: Chinonye Chukwu
Elenco: Danielle Deadwyler, Jalyn Hall, Frankie Faison, Haley Bennett, Sean Patrick Thomas e Whoopi Goldberg

O Alfaiate

OAlfaiate

Lançado nos Cinemas nos EUA. Lançado Diretamente em Plataformas Digitais no Brasil. O Alfaiate é um suspense elegante e que nos envolve em sua narrativa tensa e instigante.
Trazendo uma história que funciona melhor se não soubermos de muita coisa, O Alfaiate adota uma narrativa similar a de obras como Os Oito Odiados e 7500, que se ambienta praticamente em um único ambiente, e com isso, o roteiro é inteligente em estabelecer com calma a rotina do alfaiate ao mesmo tempo em que planta pequenas pistas que serão recompensadas ao longo do filme. Com isso, quando a história engata, o filme se torna ainda melhor e mais instigante, e a direção e o roteiro de Graham Moore são felizes em sustentar a tensão pelo filme todo ao trazer diversos pontos de tensão e explorá-los de forma a elevar nossa tensão (um exemplo disso é aquele que envolve um baú). E ao se ambientar em um único cenário, a direção explora ao máximo a tensão entre os personagens e a situação que estes se encontram, criando uma constante sensação de desconfiança que nos deixa sempre incertos sobre o que vai acontecer. Melhor ainda é que o filme se mostra enxuto, se desenrolando em um ritmo crescente, e ainda concluindo de maneira bastante satisfatória (embora achei que o filme poderia terminar alguns minutos antes sem a necessidade de mais uma reviravolta em seus minutos finais).
Sempre tenso e elegante em sua forma, o filme ainda conta com atuações muito boas (Mark Rylance está impecável em sua atuação, conferindo o tom certo de ambiguidade ao personagem e uma afabilidade que nos leva a gostar de seu personagem, já que o ator se mostra sempre seguro em cena, nos convencendo de suas habilidades como um nobre alfaiate e da sua autêntica vontade de ser uma bússola moral diante dos demais personagens, Johnny Flynn está ótimo como o personagem mais imprevisível do filme, Zoey Deutch e Dylan O’Brien permanecem atores carismáticos, e Simon Russell Beale confere alguma humanidade como um dos assassinos, mostrando se importar com os demais personagens), uma ótima fotografia, um design de produção muito bom (e a alfaiataria se destaca ao revelar o cuidado do ambiente, com as diversas peças de roupas e tecidos espalhados), excelentes figurinos, uma trilha sonora elegante (e que traz temas que conferem um ar clássico ao filme), enfim, é um ótimo filme.
Nota: 9!!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais e no Amazon Prime Video

Gênero: Suspense
Duração: 105 Minutos
Classificação Indicativa: 14 Anos (Violência e Drogas Lícitas)
Distribuição: Universal Pictures
Direção: Graham Moore
Elenco: Mark Rylance, Zoey Deutch, Johnny Flynn, Dylan O’Brien, Nikki Amuka-Bird e Simon Russell Beale

Ferrari

Ferrari

Ferrari é envolvente em sua história e interessante como estudo de personagem, revelando-se um filme excelente.
Abordando um período atribulado de Enzo Ferrari em meio a novas corridas, a Ferrari à beira da falência e um casamento instável, Ferrari mostra-se menos interessado em funcionar como biografia e mais em mostrar um determinado período da carreira daquele homem, e inicialmente senti que o roteiro parece demorar a encontrar um centro narrativo identificável ao espectador, já que o início do filme (e boa parte do primeiro ato) traz diversos acontecimentos e tramas que surgem rapidamente sem um devido contexto. Felizmente, conforme o filme se desenrola, melhor ele vai se alinhando em seu roteiro, e quando o filme engata, ele não para mais. Eficaz ao criar um frequente clima de tensão ao trazer uma série de problemas e enfrentamentos pessoais ao protagonista, e que nos leva a sentir um pouco do peso e da turbulência na vida do biografado (além, é claro, da sua visão de trabalho), o filme adota um tom frequentemente sério e sóbrio na história, mas que flerta ocasionalmente com o melodrama e o novelesco (como a boa trilha sonora do filme ressalta em muitos momentos do filme com uma dramaticidade quase exagerada, além da frequente carga trágica imbuída ao personagem), e se nem sempre os tons parecem se encontrar (especialmente no primeiro ato), ao menos funciona em grande parte do tempo.
Trazendo o retorno do diretor Michael Mann na direção, é mais do que notável o talento do diretor para as sequências de ação e de corrida (é dele também filmes excelente como Colateral, Inimigos Públicos e os jovens clássicos Fogo Contra Fogo e O Informante), mas também de conduzir o drama de seus personagens. E se as sequências de corrida são muitíssimo bem realizadas através da montagem disciplinada (que corta nos momentos certos) e através da fotografia com os enquadramentos que jamais nos perde no meio da correria, mas que também encontram alguma beleza nas paisagens que os motoristas estão (como o espetacular plano aberto que vemos o início de uma corrida à noite ou aqueles que estendem a distância durante a corrida, retratando o foco absurdo dos corredores), o diretor aborda nas passagens focadas nos personagens os seus típicos planos que ficam quase próximos do rosto dos seus atores, aproximando-nos deles (adotando também uma paleta de cores bastante sóbria também), chegando ao ápice na belíssima sequência da ópera (em que vemos o efeito daquela ópera em alguns dos seus personagens e as memórias que nascem a partir da bela música). Além disso, é curioso como na cena que Ferrari encontra-se em um cemitério em que a montagem corta de um plano que esconde o rosto de Ferrari para outro que o retrata chorando. E o que dizer do impactante momento de um acidente inesperado, que é retratado de forma chocante e brutal?
Sempre envolvente, Ferrari ainda conta com atuações muito boas (Adam Driver faz um excelente trabalho como Enzo Ferrari ao trazer uma composição disciplinada, que demonstra o talento dele para as corridas e a sua visão acerca das mesmas e da própria empresa, ao mesmo tempo que retrata uma exaustão sutil de um homem que esconde seus sofrimentos, Penélope Cruz faz uma ótima atuação, e embora a atriz frequentemente flerte com o over, quando oscila entre a caricatura de mulher enlutada com a de uma mulher imprevisível, a atriz consegue contornar esses extremos com alguma frequência, Shailene Woodley está muito bem, onde a atriz confere sobriedade e calor humano à sua personagem e o brasileiro Gabriel Leone tem uma ótima atuação e chama a atenção como Alfonso de Portago), um excelente design de som (e como de hábito nos filmes de Michael Mann, o som se destaca ao trazer realismo a diversas passagens, nos fazendo sentir parte das corridas), ótimos figurinos e design de produção (a recriação de época é muito boa e bastante sóbria), efeitos especiais eficientes, uma maquiagem muito boa (especialmente para tornar seus personagens parecidos com as figuras reais), enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais e no Amazon Prime Video

Inspirado em Fatos Reais.
Baseado no Livro de Brock Yates.

Gênero: Drama/Ação
Duração: 130 Minutos
Classificação Indicativa: 16 Anos (Violência, Conteúdo Sexual e Drogas Lícitas)
Distribuição: Diamond Films
Direção: Michael Mann
Elenco: Adam Driver, Penélope Cruz, Shailene Woodley, Sarah Gadon, Gabriel Leone, Jack O’Connell e Patrick Dempsey

Orion e o Escuro

OrioneoEscuro

Lançado Diretamente no Netflix no Brasil e nos EUA. É natural que durante a infância, sentíamos medos de todas as formas possíveis que devido ao nosso desconhecimento da idade, pareciam ganhar contornos bem maiores do que deveriam. Mais ainda é que mesmo depois de adultos, ainda somos capazes de sentir medo, mesmo que demonstremos maturidade o bastante para aprender a lidar com nossos receios. E este Orion e o Escuro compreende isso, e é uma animação que remete a Divertida Mente e que é fascinante em seus temas e incrivelmente imaginativa e encantadora.
Trazendo Orion, um garoto com imenso medo do escuro conhecendo o próprio Escuro que o levará em uma viagem para superar seus medos, Orion e o Escuro busca trazer uma história que remete à obra-prima Divertida Mente onde busca trabalhar conceitos e ideias abstratas e complexas de forma lúdica e simples, e através dos medos e receios do protagonista, acabamos nos aproximando de Orion, e projetamos nele as nossas memórias e medos infantis, criando uma identificação com o personagem. Além disso, o filme é enxutíssimo e bastante objetivo em sua história, se desenrolando em um ritmo divertido e gostoso e que junto da leveza e do peso da narrativa, tornam o filme uma experiência bastante envolvente. Além disso, o filme encanta com a imaginação da sua história, que busca explorar seus conceitos e ideias até o limite, ao mesmo tempo que os apresenta de forma lúdica e que novamente, nos fascina ao relacioná-la ao nosso cotidiano (como no momento em que o trabalho das Entidades da Noite – onde a Insônia se torna uma – é explicado).
Trazendo um roteiro assinado por Charlie Kaufman (responsável por obras-primas como Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças e Anomalisa) onde basicamente ele cria uma versão do maravilhoso Divertida Mente sob o seu filtro particular e que traduz as suas principais peculiaridades como roteirista, o que acaba aproximando Orion e o Escuro de obras suas, que vão desde Adaptação. (que lidava com uma narrativa complexa e cheia de camadas e que uma delas trazia um narrador tentando adaptar um livro, e que aqui adota novamente a utilização de um narrador consciente da história sendo contada e de como encontra maneiras de expandir o que está sendo contado) a Quero Ser John Malkovich (como ao trazer sequências dentro da mente humana), sem contar o próprio traço autoral de seus diálogos, que aqui saídos da boca de uma criança de 12 anos, não poderiam traduzir melhor os anseios e neuroses naturais de uma criança ansiosa, mas que também servem facilmente para qualquer jovem ou adulto passando por crises pessoais. E aqui e ali também encontramos traços de seu típico humor sombrio e ligeiramente anárquico que diverte imensamente (como na sequência que a Entidade Sono usa de maneiras bem atípicas para colocar as pessoas para dormir ou a inesperada participação do diretor de documentários Werner Herzog como narrador de um breve vídeo, além do momento que até mesmo as Entidades da Noite revelam suas próprias inseguranças). E mesmo as autoindulgências de Kaufman como roteirista, especialmente quando alonga seu desfecho (diluindo um pouco da emoção do desfecho), podem até ser perdoadas devido à imaginação apresentada e do tocante conceito de continuar as histórias que nossos pais nos contavam quando éramos crianças.
Enquanto isso, o filme fascina ao discutir a nossa relação com o medo e até mesmo com o escuro, onde a partir disso, o roteiro nos faz relacionar com o nosso medo do desconhecido, de não saber o que está por trás da ausência de luz. E com isso, o filme deixa lições tocantes que, embora inevitáveis dentro de filmes do gênero, são belas ao nos estimular e a nos desafiar a não ter medo do desconhecido, e que sim, ele faz parte da vida, e ainda assim, seguimos adiante, pois não sabemos se o que virá depois será algo bom ou ruim, mas que vale a pena tentar.
Contando ainda com uma animação muito boa (que, surpreendentemente para os padrões da DreamWorks Animation, traz uma animação mais simples no design dos personagens humanos, mas que se sobressai no design de personagens e de cenários mais abstratos, o que permite uma liberdade maior para os animadores experimentarem mais, algo que se traduz no fantástico design de produção, que encanta nos momentos que entramos na mente humana, e gosto de como o subconsciente é traduzido visualmente no terceiro ato), uma ótima dublagem, uma eficiente trilha sonora, uma bela fotografia (que aproveita ao máximo as passagens mais grandiosas e abstratas do filme), enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível no Netflix

Baseado no Livro de Emma Yarlett.

Gênero: Animação/Aventura
Duração: 90 Minutos
Classificação Indicativa: 10 Anos (Temas Sensíveis)
Distribuição: Netflix
Direção: Sean Charmatz
Elenco de Vozes (Versão Original): Jacob Tremblay, Paul Walter Hauser, Colin Hanks, Mia Akemi Brown, Ike Barinholtz, Nat Faxon, Golda Rosheuvel, Natasia Demetriou, Aparna Nancherla, Carla Gugino, Matt Dellapina e Angela Bassett

Furiosa: Uma Saga Mad Max

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A trilogia Mad Max estrelada por Mel Gibson teve um início bastante modesto em 1979, se elevando em uma excelente continuação que tinha a oportunidade de expandir melhor seus temas e a ação espetacular, apenas para ser encerrada por um terceiro filme, que embora muito problemático em sua metade muito oscilante da gênese da franquia, ainda era um filme ótimo. E o que já dava para ver na trilogia era a capacidade da direção de criar sequências de ação intensas e de cair o queixo, e do roteiro de explorar sutilmente seus temas de exploração de recursos naturais e da desumanização do ser humano após o fim da civilização. Mas nada disso nos preparou para o jovem clássico Mad Max: Estrada Da Fúria em 2015, que elevou a síntese da saga a um patamar cinematográfico arrebatador ao criar um filme com ação praticamente constante e incessante, podendo ser considerado um dos melhores filmes de ação já feitos (ou melhor, de qualquer gênero), e que já está se tornando influente. Mais do que o próprio Max, a Imperatriz Furiosa de Charlize Theron se tornou uma personagem icônica a ponto de render um filme próprio, e este Furiosa: Uma Saga Mad Max é digno do fantástico filme anterior, e mesmo não o superando, o complementa perfeitamente e é um filme espetacular em ação e história.
Retratando toda a vida de Furiosa da infância à vida adulta enquanto busca uma vingança pessoal, Furiosa: Uma Saga Mad Max surpreende ao ir na contramão do anterior ao deixar a ação constante de lado para apostar fortemente na história, no desenvolvimento de personagens e principalmente, na expansão do seu universo. Paciente em seu desenrolar, o filme fascina ao explorar os seus personagens onde traz novas informações sobre aqueles que já vimos antes (como ao retratar a Cidadela quando ainda estava em seus primórdios), enquanto os novos que surgem aqui também fascinam em sua construção. Com isso, o filme se permite explorar seus temas de forma ainda mais clara ao trazer personagens lutando por recursos naturais e retratando a desumanização do ser humano, e claro, ao surgimento de falsos profetas (e a primeira aparição de Dementus, com barba e vestes que se assemelham às clássicas figuras santificadas, revela absolutamente tudo que precisamos saber sobre o personagem). E é a necessidade de encontrar qualquer resquício de humanidade que parece mover alguns dos seus personagens assim como na busca incessante de alguns deles pelo poder. Não à toa que o grande clímax do filme não é com uma grande explosão, e sim com a triste constatação de uma personagem ao perceber que está mais próxima do que imaginava de uma figura que tanto odiava.
Mas Furiosa: Uma Saga Mad Max não seria um filme digno da saga sem ação, e aqui, se inicialmente o filme parece se demorar um pouco para engatar, a partir da primeira grande sequência de ação, o filme engata, e engata mesmo. Caramba, essa primeira sequência de ação é tão fantástica, tão incrível, ela vai aumentando a sua escala e grandiosidade de uma maneira tão impressionante que é de cair o queixo, já que quando pensamos que ela atingiu um ápice, somos surpreendidos com mais novos elementos que sustentam-na mais um pouco. Mais ainda, ela revela novamente o talento fora do comum do diretor George Miller em construir sequências de ação complexas, já que o diretor preenche o quadro com movimentos, ação e informações que podem surgir de qualquer ponto da tela, encantando com a precisão impressionante da coreografia e das diversas manobras e peripécias que podem ser feitas com qualquer veículo, algo que se mantém pelo resto do filme na condução impecável das sequências de ação (e a montagem merece aplausos por conseguir sustentar o ritmo da ação e cortar nos momentos certos, sempre permitindo tornar a ação clara em sua decupagem e sem nos deixar perdidos na ação).
Visualmente espetacular, Furiosa: Uma Saga Mad Max ainda encanta em seus aspectos técnicos: O design de produção impressiona com os cenários diferentes uns dos outros, buscando trazer personalidade aos habitantes do universo distópico e de seu vasto escopo, especialmente os veículos, que soam improvisados e surpreendentes em suas capacidades, enquanto os figurinos são bastante criativos em revelar muito de quem os veste. Além disso, a fotografia encanta com os enquadramentos belíssimos e que trazem uma escala de tirar o fôlego, e mesmo se passando totalmente no deserto, o diretor de fotografia Simon Duggan encontra maneiras de sempre tornar o filme visualmente interessante pelo uso de contrastes e cores intensas. Já a maquiagem é excepcional (e digna de prêmios) ao retratar as diversas figuras vistas em tela, impressionando nos detalhes das caracterizações (seja em cicatrizes e próteses propositalmente artificiais) e por nos convencer da vivência daqueles personagens no deserto. E se o design de som é extraordinário na imersão que nos provoca no filme (e claro, nos belos efeitos sonoros para as explosões, tiros e roncos de motores, que chegam a parecer extensões dos personagens), os efeitos especiais são excelentes e muitíssimo bem empregados, e mesmo a artificialidade de alguns deles (que só são levemente prejudicados pela aparição dos bonecos digitais e de elementos digitais em alguns momentos) podem ser perdoadas, já que são usados com parcimônia.
E no final das contas, é na maneira surpreendente que expande e complementa o anterior que torna este filme um excelente esforço, e que acaba tornando Furiosa uma personagem ainda mais trágica do que imaginávamos, e que agora seu grito no meio do deserto carregará uma dor ainda maior ao rever aquele filme em retrospecto. E este aqui ainda conta com atuações muito boas (Anya Taylor-Joy pode até não superar o memorável trabalho de Charlize Theron naquele filme, mas a atriz explora ao máximo a oportunidade de tornar a personagem ainda mais fascinante, onde além da fisicalidade em cena, a atriz expressa pelo seu intenso olhar o que precisamos sentir sobre a personagem, Chris Hemsworth entrega aquela que deve ser a melhor atuação da sua carreira, já que o ator confere ao vilão Dementus uma figura que diverte pela caracterização, mas que consegue impor alguma imprevisibilidade e ambição ao seu personagem que o torna implacável, além disso, o ator humaniza o seu personagem a partir de elementos como o ursinho de pelúcia ou o fato dele cuidar da pequena Furiosa quase como uma filha e parecer se importar com a mesma, Tom Burke chama a atenção com seu personagem que remete pontualmente ao conhecido Max e Charlee Fraser faz uma ótima participação como a mãe de Furiosa), uma trilha sonora muito boa, enfim, é mais um filme excelente de uma franquia muito boa.
Nota: 10!!!!
Status do Filme: Em Exibição Nos Cinemas

Prelúdio de Mad Max: Estrada Da Fúria.
Baseado nos Filmes Mad Max, Mad Max 2: A Caçada Continua e Mad Max – Além Da Cúpula Do Trovão.

Gênero: Ação
Duração: 148 Minutos
Classificação Indicativa: 16 Anos (Violência Extrema e Drogas Ilícitas)
Distribuição: Warner Bros.
Direção: George Miller
Elenco: Anya Taylor-Joy, Chris Hemsworth, Tom Burke, Alyla Browne, Lachy Hulme e Charlee Fraser

Wonka

Willy Wonka se tornou um personagem marcante no clássico A Fantástica Fábrica De Chocolate de 1971, imortalizado na doce atuação de Gene Wilder. E em 2005, Tim Burton trouxe uma maravilhosa refilmagem que atualizava e expandia o filme original, e que trazia Johnny Depp em uma atuação divertidíssima. De inegável em ambas as versões, é que elas marcaram suas respectivas gerações com uma história doce e divertida. O que nos traz a este Wonka, que não duvido que marcará mais uma geração, e é um filme surpreendentemente maravilhoso, gracioso e de uma magia contagiante.
Buscando apresentar as origens humildes de Willy Wonka antes de se tornar o icônico chocolateiro, Wonka acerta ao adotar um tom de fábula desde o início onde os tons frequentemente caricatos de seus personagens ajudam a nos mergulhar em um universo que se entrega ao fabulesco e ao fantasioso, sem nos fazer racionalizar aquilo tudo, e é um mérito da direção de Paul King em trazer uma atmosfera leve, sempre mágica, de uma inocência tocante que nos despe do cinismo do mundo (algo que ele também havia feito com muito sucesso nos adoráveis filmes do ursinho Paddington). Aliás, é reconfortante assistir ao filme justamente pelo seu clima mágico, doce e inocente, que o Cinema tem perdido cada vez mais. Mais ainda é que a história se torna envolvente, e que o roteiro consegue estabelecer uma âncora emocional importante para o espectador (e que envolve a relação de Wonka com sua mãe, e cujo desfecho é muito emocionante e confere um novo significado ao convite dourado), além de trazer personagens que encantam e divertem com suas peculiaridades, onde ainda traz piadas que flertam com um humor que tende ao infantil e que ao invés de soar bobo, acaba sendo divertido justamente por apostar com força no tom fabulesco da narrativa. Melhor ainda é que o filme também acerta em piadas que divertem pelo inesperado como aquela envolvendo os monges de uma igreja que repetem palavras em cantoria gregoriana ou a de um policial que vai ficando mais gordo a cada nova cena que aparece. Além disso, os números musicais jamais soam excessivos, surgindo nos momentos mais ideais possíveis, e melhor ainda é que as canções são maravilhosas e encantadoras, e seus números musicais trazem uma energia e uma imaginação que contagiam o espectador.
Sempre encantador em seu belíssimo trabalho técnico, Wonka traz um design de produção espetacular que combina a típica recriação de época com uma forma mais fabulesca e colorida que encanta aos olhos. O mesmo vale dizer para os belos figurinos e para a maquiagem, que respeita o tom fabulesco da narrativa, sendo fiel ao período, mas não se furtando em pintar seus vilões como se fossem de desenho animado, e que é mais do que apropriado ao filme (como a governanta e seu ajudante, além do policial que vai ficando mais gordo). Além disso, a fotografia é lindíssima e devidamente estilizada em suas cores vibrantes, trazendo planos que nos mergulham dentro do filme (e acredito que caso o filme tivesse sido lançado em 3D, seria um complemento muito bom) e os ótimos efeitos especiais ajudam a complementar a experiência, conferindo o tom certo de artificialidade para jamais parecerem deslocados no filme.
Contando ainda com ótimas atuações (Timothée Chalamet mostra-se inspiradíssimo em sua atuação, conferindo energia e carisma a Willy Wonka, mas também o tom certo de inocência que ajuda a nos ancorar ao seu personagem, cuja atuação não deve em nada as de Gene Wilder e Johnny Depp, Calah Lane está muito bem e surge como uma ótima revelação, Hugh Grant diverte bastante como o Umpa-Lumpa, enquanto isso, os vilões se divertem a valer com suas divertidíssimas caracterizações, flertando com um over que se encaixa na narrativa, assim como os mocinhos que também encantam com as boas atuações) e uma trilha sonora muito boa, enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais e no Max

Baseado nos Personagens Criados por Roald Dahl.

Gênero: Aventura/Musical
Duração: 116 Minutos
Classificação Indicativa: 10 Anos (Violência, Atos Criminosos e Drogas Lícitas)
Distribuição: Warner Bros.
Direção: Paul King
Elenco: Timothée Chalamet, Calah Lane, Keegan-Michael Key, Paterson Joseph, Matt Lucas, Mathew Baynton, Sally Hawkins, Rowan Atkinson, Jim Carter, Natasha Rothwell, Rakhee Thakrar, Rich Fulcher, Tom Davis, Olivia Colman e Hugh Grant