Dogman

Dogman

Dogman é um drama trágico e impactante, um estudo de personagem fascinante e um filme excelente.
Ancorando sua história na vida de Douglas, que depois de uma vida de tragédias na infância, vive à margem da sociedade junto com os cães que o acolheram, Dogman tem uma história que funciona melhor conforme a descobrimos, conseguindo nos envolver desde o início ao nos instigar em descobrir mais sobre o seu curioso protagonista. Adotando um tom trágico e triste desde o início, o roteiro busca humanizar e se solidarizar com seu personagem, cujas circunstâncias e desgraças o levaram a tomar uma série de caminhos mais sombrios, encontrando também uma forma de expressar sua mente artística através de shows de drag. Além disso, o carinho que ele sente pelos cães (e vice-versa) é extremamente palpável e tocante, nos fazendo sentir toda a dor de seu personagem ao longo da vida. E com isso, o desenvolvimento da história surpreende por tomar caminhos tão inesperados como a própria vida, e que surpreendem pela emoção que causa (mesmo que aqui e ali, o roteiro deixe de explorar alguns pontos que aprofundariam melhor a vida de seu protagonista). E mesmo quando o filme mergulha em pequenas tramas de roubos, é seu centro trágico que nos retorna ao filme e nos faz lembrar que não há muito espaço para a felicidade e para o amor dentro do universo do filme, além do amor único e verdadeiro que cachorros são capazes de demonstrar aos seus donos. E o filme é tão eficaz em nos ancorar ao seu protagonista, que pouco a pouco, passamos a não só compreender seu personagem, como a encarar os demais personagens como estranhos ou cruéis (algo que aconteceu de certa forma com a obra-prima Edward Mãos De Tesoura).
E é surpreendente que o diretor Luc Besson, apesar de mais acostumado a filmes de ação/aventura e de já ter dirigido alguns dramas, consiga se sair tão bem aqui, já que a história poderia descambar para uma bobagem melodramática. E aqui o diretor surpreende com uma abordagem sensível e sóbria, e embora ocasionalmente perigue flertar com a caricatura explorando desgraças para fins dramáticos (como os flashbacks da infância do protagonista) ou mesmo através de exageros bastantes pontuais (as habilidades caninas que os cachorros desenvolvem ou ao tentar conectar seu protagonista com a psicóloga de uma forma também trágica), o fato é que acaba funcionando dentro do filme, e o diretor só consegue contornar isso por conseguir ressaltar tão bem os elementos humanos da narrativa, assim como o seu tom trágico de uma maneira bastante sóbria (e Besson além de comandar bem a ótima sequência de ação que ocorre no terceiro ato, traz aqui duas sequências inesquecíveis embaladas por músicas de Édith Piaf).
Mas provavelmente o filme não funcionaria se não fosse pelo ator Caleb Landry Jones: Talentoso, o ator surpreende em todas as escolhas para o seu personagem, não temendo encarar aspectos que tornariam seu personagem exagerado (o hábito de se maquiar ganha contornos complexos em relação à sua identidade e condição). Conferindo imenso peso (sua criação católica o leva a questionar o Criador, mas não deixa também de acreditar na sua Fé), Jones transforma Douglas em uma figura inicialmente enigmática, mas cuja voz calma e pacífica já indica alguém tão abalado que encara e justifica todas as decisões de sua vida de forma filosófica, mas não menos tocante. E seria justíssimo caso o ator fosse lembrado nas premiações por sua bela atuação.
Trazendo um final absolutamente sublime e arrebatador, o filme conta com boas atuações do elenco coadjuvante (se Jojo T. Gibbs acaba limitada pelo roteiro já que se torna o nosso avatar dentro do filme, Grace Palma confere alguma luz à narrativa e o jovem Lincoln Powell se sai muito bem na versão infantil do protagonista), uma ótima fotografia (que adota uma paleta de cores fria e melancólica, ganhando cores extravagantes apenas em momentos pontuais, algo que se aplica de certa forma ao design de produção, que também confere realidade ao seu universo), bons figurinos, uma maquiagem muito boa, uma ótima montagem (que torna a narrativa sempre fluida, mesmo com os frequentes flashbacks), uma excelente e climática trilha sonora (que confere o tom perfeito de melancolia e tragédia ao filme, e o uso de violinos carregados e tristes tornam a experiência sempre melancólica e carregada), enfim, é um filme excelente.
Nota: 9,5!!!!
Status do Filme: Disponível em Plataformas Digitais e no Amazon Prime Video

Gênero: Drama/Suspense
Duração: 115 Minutos
Classificação Indicativa: 16 Anos (Violência, Drogas Lícitas e Linguagem Imprópria)
Distribuição: Diamond Films
Direção: Luc Besson
Elenco: Caleb Landry Jones, Jojo T. Gibbs, Christopher Denham, Grace Palma e Lincoln Powell

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